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Diário de Bordo de uma estudante missionária em Hokkaido: Preparativos e embarque.



Uma semana antes do embarque:


Comprei a passagem mesmo assim, com a restrição de trazer 10 kilos a menos. Veja como raciocinara: Ganhar os 5 mil yens da promoção daquela companhia aérea me valeriam dezenas de livros vendidos, quem sabe horas e horas falando. E como estudante, eu não tinha esse luxo de pagar um valor não promocional. Feitas as contas na minha cabeça, e depois de entrar pela madrugada conferindo se era essa mesmo a melhor opção, comprei minha primeira passagem aérea, pois meus pais já tinham ido dormir. Subiu um frio pela espinha: faltava finalizar a arrumação da mala. Chegava o dia. Senhor, tenha misericórdia de mim!

Alguns dias antes:

O Pastor Akeri Suzuki e esposa, que foram missionários na Coreia, pela Divisão Norte Ásia-Pacífico, um dos responsáveis pela nossa vinda ao Japão, nos visitou no sábado e disse algo que me animou: Hokkaido era o destino mais desejado pelos colportores há algumas décadas. Não só pelo clima mais ameno, como pelo povo bem receptivo. "Sapporo, aí vamos nós!"
Um dia antes:

Minha nossa! O que colocar numa mala com limite de 10 kilos?

O principal é, com certeza, 6 camisetas para não precisar lavar durante a semana, pois teremos só um dia pra isso, a tarde da 6a feira. Saias para combinar e o saco de dormir. Bíblia, capa de chuva, guarda-chuva porque aqui se respeita muito a previsão do tempo! Suripa (chinelo exclusivo para uso interno), a pasta com os papeis do treinamento, o kit emergencial para probleminhas de saúde como bolhas, dores, assadura, mesmo sabendo que os líderes arranjarão isso tudo, certamente. Pacotinhos de Caloria para não passar fome. E minha mãe ainda me deu castanha portuguesa e biscoitos emergenciais. A preocupação dela é com dores nas pernas, de cabeça, desidratação, fome, etc. Um dia terei uma cabeça pra antecipar tudo. A minha preocupação? A de não saber falar a oferta, na verdade tudo em japonês. O resto se arranja.

Não fecha com o primeiro zíper. Terei que liberar o segundo zíper da mala. Xiii, não dá mais!
Dia do embarque:

Minha mãe apareceu logo de manhã no quarto. Colocou uma música do teclado para acordar meus irmãos pra escola e eu pra arrumar o quarto e finalizar outras duas malas. "Senhor, misericórdia!"

Pra cá, só voltarei dia 5, quando rumarei pra Coreia, num congresso de missão e de lá para minha escola. É o que mais quero, a missão. Mas com passeio, rsrsrsrs. Não sei se essa missão em Hokkaido terá. É época de os campos estarem cobertos de lavanda, mas vou sem a expectativa de vê-las. Coisas de última hora tento socar na mochila das costas: máscara úmida, (caso fique doente, sou obrigada, pela ética da gripe, a cobrir boca e nariz), boné, bolsinha de moedas para os trocos, garrafa térmica de água, Zayru card (cartão de residente). "Cadê meu Zayru card?Minha nossa..." Na verdade, "cadê minha carteira?" Gelei. Uma oração cruzou meu cérebro de ponta a ponta. "Que eu a encontre a tempo, Senhor!" Nem era hora para bronca de mãe. Fuçamos tudo por ali... abrimos mala, mochila... reviramos roupas espalhadas.

Como que dirigida por uma voz que dizia "Levante o colchão!", depois de meia hora, levantei o colchão: lá estava ela. "Preciso de fé, Senhor. Muito mais. Ajude-me a ouvi-Lo."

Na saída para pegar o ônibus, que me levaria para o aeroporto, visitamos o sr. Takimoto. Mora sozinho. Creio que já tenha passado dos 8o anos. Não trouxe dessa vez o clarinete para uma música porque vou direto pra colportagem.
Pedi que ele intercedesse em suas orações pelo grupo todo de Hokkaido. Mostrei-lhe a lista de pedidos que os líderes me enviaram com o intuito de buscar uma rede de apoio intercessora. Eram detalhes específicos. Sem intercessores não há missão. Sem muita oração, não há poder. E ele se sentiu bem. Foi como se eu o presenteasse. Meu pai pediu para que ele orasse por mim antes da chegada do ônibus. Ali mesmo. Nessas horas, vemos como um senhor, idoso bem debilitado pela doença, cria forças para cumprir seu dever espiritual. Ele orou com fé, com fervor, por um tempo que pareceu o início da Eternidade.  E me presenteou, sem saber, com o que mais gosto: doce de castanhas portuguesas. E nos despedimos. Seus lábios ainda tremiam quando me distanciei dele. Orei em pensamento para que o Senhor diminuísse suas dores. Acenei do ônibus e não vi mais ninguém. Mergulhei em meus pensamentos. Teria que me virar dali pra frente. Eu e meu anjo. Agarrei-me nele. Foi esta a minha decisão.

Comentários

  1. Parabéns pela decisão e pelo relato. Estaremos orando para que Deus abençoe seus projetos. Aguaremos duas experiências missionárias e que elas motivem outros mais. Minhas 13 férias de colportagem foram inesquecíveis.

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